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A separação das Igrejas Ortodoxa e Romana
A separação das Igrejas Ortodoxa e Romana

A separação das Igrejas

Ortodoxa e Romana

Em primeiro lugar devemos realçar que a Igreja Ortodoxa nunca se separou de nenhuma outra Igreja

Triste e doloroso acontecimento na Igreja de Cristo foi a separação das Igrejas Ortodoxa e Romana, que por mil anos permaneceram unidas. São múltiplas e complexas as causas; psicológicas, políticas, culturais, disciplinares, litúrgicas e, até dogmáticas. Todavia, é bem certo e historicamente demonstrado que a separação definitiva não se processou com o Patriarca Fócio, no século IX, nem com o Patriarca Miguel Celurário, no século XI (1054). Apesar das divergências havidas entre ambas as Igrejas, principalmente a questão do Filioque e dos Búlgaros, a unidade foi mantida. Os Patriarcas Orientais e Ocidental permaneceram em comunhão, pelo menos parcial e, mesmo em Constantinopla, as Igrejas e mosteiros latinos continuaram a existir.

A divisão foi efectuada durante vários séculos. A origem desse facto histórico teve como verdadeira causa a pretensão de Carlos Magno (século VIII - ano 792) de contrair casamento com a Princesa Irene de Bizâncio e não conseguir seu objectivo. Ressentindo-se com a recusa, atacou os orientais, atribuindo-lhes erros que não tinham, nos livros chamados Carolinos, apoiado pelos teólogos da corte de Aix-la-Chapelle. Essa atitude prejudicou profundamente a vida entre ambas as Igrejas, não obstante haver o próprio Papa desaprovado a ocorrência.

A ruptura definitiva e verdadeira produziu-se na época das Cruzadas, que foram totalmente nefastas para as relações entre as duas partes da Cristandade. Os bispos orientais foram substituídos por latinos. O golpe de graça nos vestígios de unidade que ainda existiam foi dado, principalmente, pela famosa Quarta Cruzada, em 1198. A armada veneziana, que transportava os Cruzados para a Terra Santa, desviou-se até Constantinopla, e cercou a "Cidade Guardada por Deus." Relíquias, museus, obras de arte, e tesouros bizantinos, saqueados pelos Cruzados para a Terra Santa, enriqueceram, inteiramente, todo o Ocidente. Até um patriarca veneziano, Tomás Marosini, se apossou do assento de Fócio, de acordo com o Papa Inocêncio III.

A mentalidade do século XX, mesmo no Ocidente, não pode deixar de recordar-se com profunda revolta e indignação, dos actos dos cruzados contra os fiéis da Ortodoxia neste infeliz Oriente, mormente em Constantinopla, no ano de 1204, quando lançaram o Imperador Alexe V do cume do Monte Touros, matando-o. Destituíram o Patriarca legalmente escolhido, João e, no seu lugar, colocaram um cidadão de nome Tomás Marosini. Em Antioquia, no ano de 1098, despojaram o Patriarca legítimo, João e, no seu lugar, colocaram um de nome Bernard. Em Jerusalém, compeliram o Patriarca legal, Simão, a afastar-se da Sé e substituíram-no por um chamado Dimper.

Os abusos dos cruzados devem ser considerados, no mínimo, actos de inimizade, além de violação do direito. Vieram ao Oriente, alegando a "salvação dos lugares santos das mãos dos muçulmanos árabes," mas o objectivo era bem outro. Quando passaram por Constantinopla e a ocuparam na terça-feira, 13 de abril de 1204, depois de um cerco mortífero que durou sete meses, ficaram deslumbrados com sua civilização e riquezas, atacaram os seus habitantes, assaltaram os seus museus e lojas, roubaram os seus palácios e igrejas, destruíram a nobre cidade do Bósforo e incendiaram-na, depois de praticarem actos de rapina e pilhagem, não deixando nenhum objecto de valor ou utensílio de utilidade doméstica.

Os cruzados permaneceram em Constantinopla de 1204 a 1261, quando foram obrigados a evacuá-la, no dia 15 de agosto, festa da Assunção de Nossa Senhora, pelo General Alexe Estratigopolos, sob o governo do Imperador Miguel Paleólogos, que reconquistou a Capital. Depois, os cruzados foram definitivamente aniquilados na Palestina em 1291.

O cisma estava consumado e, apesar dos desejos e dos esforços conjugados nesse sentido, não houve nenhuma possibilidade de sanar a ruptura até ao dia de hoje. A esperança de união não conseguiu converter-se em feliz realidade, como todos apelavam. Essa ânsia motivou três concílios: de Bai, Apúlia, em 1098; de Leão, em 1274; e de Florença, entre 1438 e 1439. Infelizmente, porém, não se conseguiu, em nenhum deles, a ansiada união de todos os cristãos numa única Igreja, debaixo de uma só autoridade: Cristo. Somente Deus e as orações farão possível a união de ambas as Igrejas. Todos os esforços que se realizam actualmente em todo o mundo serão em vão e condenados ao fracasso se não se apoiarem na oração e no sacrifício. É necessário, inicialmente, que se eliminem e desapareçam totalmente os ataques, as pregações condenatórias e o tratamento de hereges e cismáticos prodigalizados, abundantemente, pela Igreja de Roma contra a Igreja Ortodoxa. (Após o último Concílio Ecuménico de Roma, cessaram os ataques contra a Igreja Ortodoxa e aos demais cristãos). É absolutamente imprescindível reconhecer que a Igreja Ortodoxa não é uma ovelha desgarrada que vive no erro e nas trevas. Pedimos a Deus para que as palavras de Cristo, "um só rebanho guiado por um só pastor," sejam um dia, uma feliz realidade.

 

Extraido de Father Alexander